Duas frases sempre me dão ânimo no kart após uma corrida ruim. A primeira é do meu amigo e mentor das pistas Walter Zulin:
"Quilometragem, quilometragem..."
A outro é de um certo pentacampeão de Fórmula 1, ao meu ver seu único defeito foi ter nascido argentino (rsrs), mas isso não importa, a frase é:
"Corridas são corridas..."
"Quilometragem, quilometragem..."
A outro é de um certo pentacampeão de Fórmula 1, ao meu ver seu único defeito foi ter nascido argentino (rsrs), mas isso não importa, a frase é:
"Corridas são corridas..."
Juntando as duas frases entendo que, em corridas boas ou ruins você deve sempre tirar algo de bom, guardar as experiências vividas naquele momento, assim na próxima corrida você fará melhor, use tudo, seja bom ou ruim para tirar lições válidas para te fazer melhor, tanto dentro, quanto fora das pistas.
Abaixo, Juan Manuel Fangio fala sobre sua corrida favorita, o GP de Monza de 1953, na Itália.
Ele fala sobre também sobre o GP de Monza de 1952, quando sofreu o pior acidente de sua carreira, e ali mesmo na Itália, um ano depois conquistaria uma vitória épica, contra adversários fortes e o público vibrante, com a palavra, Juan Manuel Fangio:
Monza fornece-me um de minhas piores, bem como uma das
minhas melhores lembranças das corridas de Fórmula 1. No caso do pior, porque
foi em Monza em junho de 1952 que eu ao bater, sofri lesões que me mantiveram
inativo por seis meses. No caso do melhor, porque no ano seguinte – após a
temporada mais frustrante da minha carreira – voltei a Monza para disputar o GP
da Itália.
Após o acidente, voltei às competições em janeiro de 1953,
cheio de otimismo, cheio de vontade de ganhar. O velho espírito competitivo que
sempre me fez vibrar precisa estar presente em mim, pensei, depois de seis
longos meses longe dos circuitos. Mas, no afã do meu entusiasmo, eu não ganhei
uma única corrida. Cheguei em segundo algumas vezes mas era na vitória que eu
mirava. Minha falta de sucesso em vencer coincidiu com uma época ruim de
resultados para a Maserati, então chegado setembro o que nós todos mais
precisávamos era de uma vitória.
O GP da Itália de 1953 em Monza teve um significado para mim
muito maior que tiveram outras corridas. Eu precisava me reabilitar após o
desastre de Monza de 1952. Pois claramente ainda sofria as consequências.
Também precisava me reabilitar-me nos olhos dos meus patrões. Mas acima de tudo
era importante para mim para recuperar a confiança dos meus mecânicos que
sempre trabalharam com tanta devoção e dedicação. Estes eram os homens que
trabalhavam com muito afinco para o sucesso no dia da corrida. Eles passaram
noites sem dormir preparando os carros para os treinos e para as corridas… e
ainda assim trabalharam com tremenda velocidade nas pistas sempre que havia
alguma emergência ocorrida durante as corridas.
De uma forma ou de outra, eu me encontrava muito ansioso para esta corrida. E minha confiança não melhorou durante a sessão de treinos, quando me pediram para testar Maserati do [Onofre] Marimón, porque ele disse que a encontrou instável. Eu percebi que o carro estava pouco seguro nas curvas e a lição foi custosa. Eu estava negociando uma curva a 130 km/h quando um dos pneus traseiros estourou devido à distensão excessiva da banda lateral do pneu. O carro foi jogado para fora da pista. Passei próximo a alguns arbustos, e embora eu tenha escapado com apenas alguns arranhões dolorosos, eu fiquei muito abalado.
Muitas pessoas disseram mais tarde que a Maserati – mesmo com as novas rodas de raio na parte de trás – não tinha a velocidade das Ferraris nas curvas, apesar de que tinha a vantagem sobre eles para velocidade na reta.
A única coisa boa que parecia vir do dia de treino foi o fato de que eu ganhei um lugar na primeira fila do grid de largada com o segundo tempo. [Alberto] Ascari tinha o melhor tempo do treino, mas minha velocidade era apenas meio segundo mais lento. Entretanto, a confiança que isto poderia ter-me dado foi dissipada, pela saída de pista na Maserati do Marimón.
A corrida em si era extraordinariamente exigente. Seu
percurso previsto era de 504 quilômetros. Cada volta era de 6,3 km. Após a
largada, na metade da primeira volta, notei que a Maserati do Marimón assumiu a
liderança. Ele passou quase imediatamente por Ascari na Ferrari, que reassume a
ponta antes do final da volta. Naquela primeira volta, Ascari, Marimón,
[Giuseppe] Farina e eu estávamos todos agrupados, separados por uma diferença
de quase 3 segundos. Aproveitando o vácuo produzido, nos mantemos próximos
volta a volta. A liderança mudou frequentemente, mas é Ascari quem mais
permanece na liderança.
Acho que os
espectadores estavam tendo sua quota de emoções. A corrida foi muito disputada,
nossas habilidades, nossos nervos bem como os carros foram muito exigidos nesse
dia, o que é correspondente a um circuito tão rápido como é o de Monza.
Monza, a propósito, lembra a forma de uma pistola
automática. Nós estávamos alcançando velocidades de até 320 km/h, muitas vezes
roda-de-roda de tão perto, foi surpreendente que nenhum incidente tenha
acontecido.
Em 5 voltas, eu estava mantendo o terceiro, atrás de Ascari
e Marimón; em 20 voltas eu continuava em terceiro, atrás de Ascari e Farina; na
volta 40 fui ao segundo lugar, atrás de Ascari com Marimón atrás de mim; a 50
voltas mantive o segundo, com Ascari na liderança e Farina em terceiro; na
volta 60 Ascari volta à liderança novamente com Farina em segundo e eu em
terceiro lugar, na volta 70 Ascari mantinha a liderança, eu havia ultrapassado
Farina e estava em segundo lugar, à de frente Farina. Durante todas estas
trocas de posições, eu suponho que estávamos separados não mais do que por
cerca de meio segundo.
Mas como aconteceu a decisão sobre quem iria vencer esta
corrida desgastante, foi levada pela senhora sorte, ela decidiu aparecer na
última volta. Farina era o segundo, um pouco atrás de Ascari, comigo em
terceiro lugar. Farina tenta realizar uma frenagem por fora na [curva]
Parabólica, quando ele se aproximou dessa curva apenas alguns segundos antes do
final da corrida.
Ele queria com uma velocidade máxima tomar a liderança de
Ascari em uma última tentativa de ganhar. Farina alargou muito o raio da curva
e eu me aproveitei disso para ultrapassá-lo e ficar em segundo lugar. Ascari,
que estava entre mim e a vitória que precisava tanto, fez essa curva muito
bruscamente e sua Ferrari rodou na pista fazendo uma meia volta. Ele foi
atingido por Marimón. Farina, quem eu tinha apenas ultrapassado, estava
respirando no meu pescoço, eu tinha de manter ele atrás na pequena distância
que me separava da linha de chegada. Aquela fração de segundo que me separou da
vitória aconteceu após percorremos os 504 kms do GP. A rigor, tanto Ascari como
Farina me entregaram essa vitória em um prato. Ascari ficou na curva com o
carro avariado pela batida e Farina terminou na minha cola. Fiquei sem
palavras, num misto de surpresa e alegria.
Senhor Lugo, o diretor da Maserati e senhor Orsi, o dono da
fábrica da Maserati, para não falar dos mecânicos no pit, eram todos euforia de
emoção.
Muitas vezes desde aquela batalha tensa e implacável com
Ascari, Farina e Marimón, eu realizei o que um piloto de corridas de motor deve
ter em todas as suas habilidades – boa vontade, nervos de aço, paciência – e
também contar com uma porção de sorte. Essa é minha receita para se ganhar
corridas.
“Minha maior vitória e meu maior milagre não foi o de conquistar
cinco títulos mundiais. O meu maior milagre foi ter permanecido vivo”
Juan Manuel Fangio - 1911 - 1995
Juan Manuel Fangio - 1911 - 1995
Rômulo Rodriguez Albarez - São Paulo/SP - ...
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