sexta-feira, 20 de março de 2015

F1 - No meu tempo que era bom...

Sempre que fuço na internet dou uma passada por um dos meus blogs favoritos sobre Fórmula 1 e afins, ou melhor dizendo, o meu blog favorito, o do Flávio Gomes.
Eu ia escrever sobre a crise que a Fórmula 1 enfrenta, a maior de sua história e tal, onde a múmia Bernie Ecclestone não faz nada para mudar os rumos que a categoria está tomando.
Eu não entendo, Bernie está no circo a décadas e décadas, passou por praticamente todas as fases enfrentadas, boas e ruins, viu mortes, consagrações e etc.

E agora que a Fórmula 1 mais precisa de sua experiência para acertar seu caminho, o Bernie ou é muito tapado que não percebe ou seu orgulho e arrogância não os permite admitir o erro em algum momento e nem dar um ou dois passos para trás, enfim, deixemos o Flávio Gomes explicar melhor, abaixo:

Embora Bernie Ecclestone não admita, e pode ser apenas que não enxergue, dado o avançado da idade e da arrogância, a F-1 vive sua pior crise. Não, não precisam buscar no passado outras piores. Esqueçam. Crises anteriores eram bem específicas e muito midiáticas, tinham a ver com brigas políticas, como nos anos 80, quando alguns times resolveram peitar a FISA (o braço esportivo da FIA), ou segurança — depois das mortes de Senna e Ratzenberger, em 1994.
Eram, por assim dizer, crises “boas”. Todo mundo falava da F-1, os boicotes dividiam torcedores e fãs, as mortes chocavam e despertavam sentimentos e discussões. E havia ídolos, e eles eram bons.
A crise atual é de outra natureza. É a crise da indiferença.
Com índices de audiência caindo no mundo inteiro, minúscula participação da indústria automobilística, autódromos vazios, países desinteressados por GPs, poucos carros, pilotos inexpressivos técnica e pessoalmente, tecnologia incompreensível, corridas enfadonhas, a F-1 é, hoje, assunto para ninguém. Este é o seu grande problema: ninguém mais liga para ela.
O dinheiro continua sendo volumoso, porque ainda há gente disposta a gastar na F-1. Mas é cada vez menos, e por razões pouco nobres — basta ver a quantidade de países sem a menor tradição no automobilismo que ingressaram no calendário nos últimos anos. Abu Dhabi, Cingapura, Bahrein, Rússia, Índia, Coreia do Sul, Turquia e China desbancaram San Marino (OK, Itália, mas vocês entenderam), França, Portugal, Argentina, até a Alemanha corre o risco de perder seu GP porque não tem ninguém a fim de pagar a conta e assumir os prejuízos.
Ayrton Senna, Alain Prost e Michele Alboreto
Estes novos GPs têm muito mais a ver com negócios do que com esporte. Basta ver que alguns deles, como Turquia, Índia e Coreia do Sul, já foram para o vinagre e estes países ficaram com o mico na mão — autódromos suntuosos e caríssimos que não servem para mais nada. E ninguém, nestes países, lamentou a perda de seu GP. Simplesmente se foram como chegaram, sem que alguém se importasse realmente. Falo do público, naturalmente. Quem botou dinheiro nessas pistas e corridas deve estar com vontade de matar um.

O grid de domingo em Melbourne foi das coisas mais deprimentes da história da categoria, mais até do que a corrida de meia-dúzia de carros em Indianápolis em 2005 — ali, outra crise midiática e ruidosa, a história dos pneus Michelin que podiam estourar a qualquer momento, foi notícia no mundo inteiro. Eram 15 alinhados na Austrália. Já se sabia quem ganharia. Já se sabia que a McLaren não faria nada. Dois abandonaram na primeira volta. Foram 90 minutos de nada acontecendo na pista. O mais rigoroso nada. Um espetáculo horrível. E aí?
Ayrton Senna
Aí que, claro, ninguém quer ver um troço desses. A não ser, claro, os fãs de sempre, os antigos, remanescentes de outras eras, que se irritam profundamente com o que estão vendo justamente porque são… antigos. Porque já viram coisa muito melhor. Porque se apaixonaram por esse negócio no passado. E os mais jovens? Como convencer um garoto de 15 anos, um jovem de 25, um rapaz de 35 a ver um treco tão chato? Eles ouvem dos mais velhos que a F-1 era sensacional. Quando se detêm por alguns minutos diante da TV, assistem a algo que de sensacional não tem nada. Desistem antes de ensaiar qualquer aproximação. Têm coisa melhor para fazer durante uma hora e meia aos domingos. Internet, games assustadoramente realistas, Tinder, Facebook, Twitter, GoPro, Instagram, Snapchat. Não adianta. Eles não se conectam com algo que não lhes diz nada. Nem mesmo alguma relação com seus carros de rua, quando os têm, encontram. Automóvel, já escrevi sobre isso, não chega a ser um campeão de audiência para a juventude. É caro, gasta gasolina, paga imposto e seguro, não tem onde parar, não pode guiar depois de beber, é um estorvo.
O quarteto fantástico - Senna, Prost, Mansell e Piquet
E os personagens? Quem são esses caras aí? Pérez, Grosjean, Stevens, Magnussen, Kvyat, Ericsson, Verstappen, Sainz Jr., Nasr, Merhi, Van der Garde? De onde vieram, para onde vão, o que comem, o que pensam, onde vivem, como se reproduzem? Que diabos é uma Manor Marussia?
É evidente que a F-1 se descolou da juventude. É evidente que precisa angariar novos fãs. É evidente que não pode viver de quem tem mais de 40 anos, principalmente porque quem tem mais de 40 anos faz comparações com o que viu no passado, e é covardia colocar lado a lado essa turminha de desconhecidos aí em cima com Mansell, Piquet, Patrese, Senna, Prost, Berger, Alesi, Fittipaldi, Stewart, Hunt, Lauda, Peterson, Berger, Schumacher, Cevert, Scheckter, Villeneuve, Jarier, De Angelis, Andretti, Regazzoni, Jabouille, Arnoux, Depailler, Laffite, Reutemann, Pironi, Ickx, Jones, Boutsen… Da mesma forma como é sacanagem falar em Toro Rosso, Manor e Force India quando já se teve Brabham, Tyrrell, Ligier, Arrows, Shadow, Alfa Romeo, Renault, até a Minardi. E, assim, que tem mais de 40 anos já está perdendo, ou já perdeu, a paciência e está em outra, não gosta nem de ver o que existe hoje, para não ficar com raiva e excesso de nostalgia.

E é aí que quer chegar. Nostalgia e saudosismo não são necessariamente ruins. Ao contrário, é algo que todo mundo tem, do jovem de 15 anos, que lembra com carinho e ternura dos desenhos que via na TV e dos brinquedos que tinha aos 5, ao senhor de 70 que olha para trás e se lembra de tanta coisa boa por que passou – muita gente, aliás, tem saudade e nostalgia inclusive de tempos que não viveu. A memória afetiva não deve ser desprezada, em resumo. Coisas, lugares, marcas, cenários, sabores, imagens, sons, tudo isso faz parte das nossas lembranças, e não há mal nenhum em revivê-las — quantas vezes, e vindo de gente de todas as idades, já ouvimos a frase “no meu tempo que era bom”?
Nelson Piquet - 1991
Se a F-1 foi boa, muito boa, no passado, talvez esteja no passado a chave para que ela renasça. A assertiva pode parecer simplória, mas tem muita lógica: os jovens de 15, 20, 30 anos gostavam da F-1 antes, e eram jovens como são jovens os que têm 15, 20, 30 anos hoje; se gostavam, é porque a qualidade do espetáculo como um todo era atraente; os jovens de hoje são tão jovens quanto eram jovens os de ontem, e se não gostam de algo que a juventude sempre gostou, é porque esse algo deixou de ser atraente. Não é culpa dos jovens, se é que me entendem.
Parece confuso, não? OK, é um pouco. Relendo o que escrevi, é quase incompreensível.

O que quero dizer é que se a F-1 agradava quem tinha 20 anos antes, não há motivo para que não agrade quem tem 20 anos hoje, a não ser que o produto que está sendo entregue seja uma porcaria, muito diferente daquele do passado.
E a F-1 de hoje não tem nada a ver com a F-1 do passado. É uma porcaria. Um amontoado de bobagens do ponto de vista técnico, protagonizado por personagens anódinos que produzem um espetáculo ruim. Simples assim: o espetáculo é ruim. Perdeu todos seus atrativos: o barulho, a variedade de marcas e modelos, os cenários clássicos e históricos, as cores, os personagens, a competição. E no mundo de hoje, com tantas alternativas de diversão e entretenimento, um espetáculo ruim só gera uma coisa nos mais jovens: indiferença. Os jovens não acham a F-1 chata, desinteressante, entediante, aborrecida. Eles simplesmente não acham nada. Nem sabem que existe. Não faz parte de seu mundo. É uma abstração, como um disco de vinil ou um videocassete.

Não é muito difícil fazer uma F-1 parecida com a do passado, de forma a reativar na mente e nos corações de quarentões e cinquentões a paixão que ela despertou neles quando eram mais novos. Se se apaixonarem de novo, dirão aos mais jovens que estão apaixonados de novo. E esses jovens podem, por que não? Se apaixonar também por algo de que apenas ouviram falar, e nunca viram de verdade.
Ayrton Senna, Jean Marie-Balestre (de óculos escuros) e Michele Alboreto
Para isso, é preciso simplificar as coisas. Deixar de lado esses motores incompreensíveis, por exemplo. V8 aspirados de 2,4 litros e barulhentos, que tal? Toda fábrica de automóveis é capaz de fazer motores V8 aspirados de 2,4 litros e barulhentos. Qualquer uma. Não custa caro. Muito menos do que se investiu nessas unidades de força que daqui a menos de dois anos serão apenas lixo tecnológico. O som dos motores, ainda que muita gente ache que isso é uma irrelevância, não é. Escutar um motor rugindo, machucar o ouvido, tremer na arquibancada à passagem de uma Ferrari, é experiência que só quem teve sabe o que é, e não pode ser descartada. É como proibir uma torcida de gritar “gol” num estádio. Não faz sentido. Câmbio padrão, com liberdade para escolher relações de marcha. Medidas fixas de comprimento, altura e largura e peso mínimo, e a partir disso cada um faz o que bem entender. Mais de uma marca de pneus. Uso limitado de túnel de vento. Asas dianteiras e traseiras sem apêndices. Fim da asa móvel. Limite de mecânicos em pit stops. Treinos de classificação na sexta e no sábado com soma de tempos. Warm up. Sim, warm up, tinha coisa mais legal do que o treino de domingo de manhã para quem chegava cedo aos autódromos? Possibilidade de fazer testes particulares em pistas que não estão no calendário, mas com limite do número de dias por ano. Venda de chassis do ano anterior para equipes menores. Teto de gastos.

Aproximação dos pilotos com o público, sessões de autógrafos, motorhomes menos herméticos e paquidérmicos que custam um absurdo, a inutilidade mais cara do planeta, fim do esquema rígido de entrevistas coletivas, mais liberdade para essa gente falar o que quiser quando quiser, ingressos mais baratos, mais corridas em países tradicionais como França, Portugal, Argentina, Holanda, Suécia, Itália, Inglaterra.
Gerhard Berger
Não é complicado. Basta querer. Mas é um modelo que nada tem a ver com o atual, exige ruptura e, sobretudo, apoio daqueles que, hoje, estão por cima da carne seca e terão de abrir mão da hegemonia que impuseram aos demais — hoje é a Mercedes, mas se eu escrevesse este texto três anos atrás, seria a Red Bull; dez anos atrás, a Ferrari.

Parece muito claro que no formato que a F-1 é disputada hoje, o destino é a morte lenta e melancólica, minguando a cada dia, sendo abandonada pelos velhos fãs e incapaz de seduzir novos. Hoje, tirando aqueles que se encantaram no passado e ainda têm esperança de que os bons tempos — terrível, o clichê, mas é o que temos pra hoje — voltem, ninguém mais liga para ela.

 É a indiferença o grande veneno que está matando a F-1. O antídoto está lá atrás. É só olhar no espelho.
Flávio Gomes - 18/03/2015

Niki Lauda com sua esposa e Prost ao fundo
E agora volto a palavra...

O primeiro ano em que me lembro de acompanhar a Fórmula 1 foi 1991, antes disso apenas flashs. Lembro com perfeição da vitória no GP Brasil de Ayrton Senna, da vitória do Nelson Piquet no Canadá com um dos carros mais bonitos da histáoria, na minha opinião, com Nigel Mansell quebrando na última volta e Piquet mais uma vez imortaliza o momento dizendo após a prova que quase teve um orgasmo quando viu o carro de Mansell que estava quase 50 segundos a frente encostado na grama. E para finalizar 1991, lembro-me como se tivesse sido domindo passado o Nigel Mansell (sempre ele), perder o controle de sua Williams no Japão e entregar o título daquele ano para Ayrton Senna.
Depois de 1991 veio o título de Mansell em 1992, ano fácil para o inglês. Em 1993 o quase mítico Alain Prost conquistando seu quarto título mundial e aí por diante.

Imagine eu, com sete anos de idade apaixonado na frente da TV em 1991 sem piscar os olhos gravando tudo isso na minha mente, aos nove vi meu maior ídolo morrer ao vivo diante dos meus olhos no muro de San Marino e etc.
Foi lá pelos meus sete anos de idade que simpatizei com um piloto que já não frequentava mais as primeiras posições, um italiano chamado Michele Alboreto, isso tudo graças a maravilha que era a Fórmula 1, ele morreu em 2001 e até hoje é o meu piloto favorito. Não imagino hoje uma criança simpatizando por um Romain Grosjean da vida, ou qualquer outro, os moldes que a categoria tomou não dão espaço mais para a paixão que ela proporcionava.
Um dos meus sonhos é assistir Fórmula 1 com meu filho que ainda nem está a caminho do mundo, é ele me acordar no domingo as 8:45 da manhã pra eu não perder a volta de apresentação.

Mas do jeito que as coisas andam pelos lados da Fórmula 1, vou continuar para o resto da vida assistindo sozinho, por que um garoto de sete anos nunca será apaixonado por esse esporte como eu era em 1991.

Ou muda ou morre.
Briefing dos pilotos nos anos 70
Rômulo Rodriguez Albarez - São Paulo/SP - ...

Nenhum comentário:

Postar um comentário