Sir Jackie Stewart, tricampeão mundial de Fórmula 1 entre
os anos 60 e 70, talvez o homem que mais lutou por segurança na Fórmula 1 em todos os tempos. Correu
em apenas 99 corridas, quando estava por completar a centésima, chocado,
desistiu de correr ao ver seu amigo e companheiro de equipe Françóis Cevert
morrer nos treinos de classificação um dia antes da corrida histórica.
O escocês também já teve uma equipe na Fórmula 1, a StewartGP, no qual conquistou uma vitória com Johnny Herbert e que também teve Rubens Barrichello como piloto no final dos anos 90.
No final de semana do GP da Espanha, Sir Jackie deu uma entrevista para o Globoesporte.com, nela ele falou sobre a Fórmula 1 atual, sobre os pilotos de hoje, sobre os pilotos brasileiros do passado e do presente e muito mais, confira:
O escocês também já teve uma equipe na Fórmula 1, a StewartGP, no qual conquistou uma vitória com Johnny Herbert e que também teve Rubens Barrichello como piloto no final dos anos 90.
No final de semana do GP da Espanha, Sir Jackie deu uma entrevista para o Globoesporte.com, nela ele falou sobre a Fórmula 1 atual, sobre os pilotos de hoje, sobre os pilotos brasileiros do passado e do presente e muito mais, confira:
GloboEsporte.com: A F1 atual, dos motores híbridos, sem
barulho, lhe agrada?
Jackie Stewart: Não. Pilotei pela última vez um carro de
F-1, desses modernos, há dois anos, o modelo da Williams, em Goodwood. Eu não
gostei. Claro, se eu o pilotasse de forma regular, acabaria por me adaptar a
todos os seus recursos. Mas como não é o meu caso, tinha de entender todas
aquelas funções instaladas no volante e depois enquanto pilotava estar atento
ao pessoal da equipe me orientando sobre tudo pelo rádio. Vi que era muito
fácil me distrair.
Entender as funções e interagir com elas considerei algo
bastante difícil de fazer. Não fui ao limite. Nos carros do meu tempo, era como
se você usasse os seus sapatos velhos, confortáveis. Você sabe onde está tudo,
do que dispõe e não muda. Repito, pilotar esses carros de hoje é um imenso
desafio. Não achei interessante. Gosto de pilotar carros rápidos, mas não com
tanta coisa diferente para fazer enquanto piloto. Minha mente é mais simples.
Faço o que preciso fazer. Hoje o piloto tem de entender o que se passa,
analisar e tomar uma decisão. Eu não cresci nesse automobilismo. Não gosto
dessa F-1, é muito complexa, prefiro quando era mais simples.
Jackie Stewart testando um carro da Williams |
GE: Mudou o processo de seleção, um piloto inteligente,
capaz de interagir com todos esse recursos, pode então se dar melhor que um
apenas talentoso para acelerar?
JS: Não creio. O animal é o mesmo. A tecnologia muda, mas as
pessoas são as mesmas. No meu tempo, você se adaptava à introdução dos pneus
lisos (1971), à chegada da aerodinâmica (fim dos anos 60), com aqueles
aerofólios altos, perigosos. Havia um choque inicial, mas nada dramático.
Quando Fangio voltou a pilotar um carro da Mercedes e da Maserati mais moderno
daqueles que o levaram a ser campeão, pilotou como antes. Os carros não haviam
mudado tanto. Mesmo dos anos 50 para os 70. Hoje são muito diferentes,
bizarros. Para encarar esse desafio com naturalidade o piloto tem de ser criado
em outra cultura. Atualmente, já no kart existe telemetria.
GE: Se pudesse, o que mudaria na F1 atual?
JS: Mudaria o pacote de entretenimento. Os dirigentes da F-1 precisam melhorar seu show e ampliar o leque de opções para se divertir no autódromo. Em Bahrein, por exemplo, se você vai atrás das arquibancadas há de tudo, música, dança, circo, áreas de descanso para a família deitar, descansar. Pode comer de tudo, cardápio árabe, americano, indiano. A F-1 tem de pensar em atrair mulheres e crianças para o espetáculo. Veja o futebol. Hoje há quase tantas mulheres quantos homens. No passado, era um esporte de homens. O homem trabalha muitas horas por semana, chega em casa e diz a esposa que vai à partida de futebol. Ela passou a dizer que quer ir junto e levar os filhos, afinal pouco se veem. É o que está acontecendo. A F-1 ainda não pensou nisso. Espero que a nova geração de patrocinadores enxergue essa necessidade.
JS: Mudaria o pacote de entretenimento. Os dirigentes da F-1 precisam melhorar seu show e ampliar o leque de opções para se divertir no autódromo. Em Bahrein, por exemplo, se você vai atrás das arquibancadas há de tudo, música, dança, circo, áreas de descanso para a família deitar, descansar. Pode comer de tudo, cardápio árabe, americano, indiano. A F-1 tem de pensar em atrair mulheres e crianças para o espetáculo. Veja o futebol. Hoje há quase tantas mulheres quantos homens. No passado, era um esporte de homens. O homem trabalha muitas horas por semana, chega em casa e diz a esposa que vai à partida de futebol. Ela passou a dizer que quer ir junto e levar os filhos, afinal pouco se veem. É o que está acontecendo. A F-1 ainda não pensou nisso. Espero que a nova geração de patrocinadores enxergue essa necessidade.
JS: Não. Eu puniria os pilotos que saíssem da pista. Em
Bahrein, na China, em todos os novos circuitos as áreas de escape são grandes e
têm a mesma aderência da pista, é na realidade sua extensão. O piloto sai da
pista e o tempo de volta é quase o mesmo. A tração fora é a mesma da pista. Não
acho que tenhamos de voltar ao tempo de reduzir as áreas e provocar acidentes,
mas a pista de corrida é aquela, o piloto não pode sair e nada acontecer. Se
abusar dos limites da pista tem de haver punição.
GE: Sua convivência com o universo da F1 remonta a 1965, ano
da estreia. Este ano lá se vão 50 anos acompanhando de perto o campeonato.
Algum piloto dos que correm hoje o impressiona?
JS: Sim. Considero Alonso o de melhor cabeça. Hamilton o
mais rápido. Mas comete erros. Nesta temporada estamos ainda na quinta etapa,
mas espere, há tempo para errar. Será difícil para Rosberg vencer Lewis. Gosto
dessa nova geração, Carlos Sainz Júnior, Max Verstappen, Daniel Ricciardo, me
parecem fantásticos. Problema hoje é Mercedes ser tão superior na engenharia.
Torna muito difícil ver, entender a capacidade dos pilotos. Honda vai chegar,
japoneses são capazes, mas não vão ganhar corrida este ano.
GE: Apesar das dificuldades no GP da Espanha, a Ferrari deu
um grande salto de 2014 para este ano. Ninguém esperava tanto, nem eles, como
afirmam. Como vê?
JS: Não vivo intensamente o ambiente interno das equipes.
Mas sei que James Allison, novo diretor técnico, é muito bom engenheiro,
conversei com ele em algumas ocasiões. Seu pai costumava trabalhar comigo,
oficial da Força Aérea, trabalhou na Jaguar. A Ferrari vai ganhar mais GP este
ano.
GE: Nesses seus 50 anos de F-1 o senhor teve Emerson
Fittipaldi como adversário, de 1970 a 1973, e viu depois pilotos brasileiros
fenomenais, campeões do mundo, como Nelson Piquet e Ayrton Senna. Mas há muito
o país não tem um representante nesse nível, como explicar?
JS: Rubens foi um grande piloto na F-1, seu recorde de
longevidade não é ao acaso. Na Ferrari não lhe era permitido vencer, o time deu
superpoder para Michael Schumacher. Rubens foi um piloto perfeitamente capaz de
conquistar o título. Em qualquer esporte há períodos de dominação dessa ou
daquela nação. Os finlandeses por muitos anos eram sempre os campeões no salto
com esqui. Nas provas de descida de montanha com esqui, franceses e austríacos
invariavelmente venciam. Então de repente chegaram os americanos, os alemães. A
Grã-Bretanha também teve períodos sem campeões. Stirling Moss ganhou muitas
corridas (anos 50), mas não o título. De James Hunt (1976) a Nigel Mansell
(1992), os britânicos não foram campeões. E antes havíamos tido Graham Hill,
Jim Clark e Jackie Stewart, também ficamos sem vencer o Mundial. Vejo como um
fenômeno cíclico.
GE: Em 1975, houve uma tragédia aqui em Barcelona, com a
morte de cinco espectadores. A segurança da pista foi questionada por todos
desde o primeiro momento. E quase não houve a corrida. Estava aqui?
Com Fittipaldi e Peterson |
GE: Bernie Ecclestone está perto de completar 85 anos de idade. Demonstrar sentir-se forte, lúcido ao extremo e mantém o controle da F1. Aliás desde o seu tempo de piloto, em 1972. Como será quando ele deixar a F1?
JS: Bernie fez mais para um esporte, no caso a F-1, mais do
que qualquer outro cidadão a qualquer outro esporte. No futebol quem você diria
que mudou o esporte? Ninguém. Na NFL (a liga de futebol norte-americano), o
histórico Peter Rozelle deixou a entidade e ela até cresceu. Ninguém é
indispensável. O próximo líder da F-1 talvez a torne ainda melhor. Bernie é
fantástico. Olhe esse paddock, tudo certinho, perfeito. Financeiramente o que
ele fez pela F-1 nem se fala. Sentirão falta de Bernie, mas será substituído.
GE: A Alemanha não tinha dinheiro para pagar os valores
elevados cobrados por Ecclestone para promover o GP e a corrida não será
disputada este ano. Acha correto esse radicalismo?
JS: Não pagaram porque quase ninguém iria para a corrida,
falta de público. Ao contrário do DTM (Campeonato Alemão de Turismo), onde o
autódromo está sempre lotado. Os ingressos da F-1 são muito caros, as pessoas
não podem pagar hoje. Não há apelo para ir assistir à corrida. É o caso de
resgatar aquilo que falei no começo da nossa conversa, é preciso melhorar o
show e criar entretenimento para toda a família nas horas no autódromo.
GE: O Brasil tem atualmente na F1 Felipe Massa, na Williams,
e Felipe Nasr, na Sauber. Como os vê?
Comemorando com Johnny Herbert e Rubens Barrichello a única vitória de sua equipe na F1, a StewartGP |
Rômulo Rodriguez Albarez - São Paulo/SP - ...
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