segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

JE SUIS CHARLIE? E com a palavra, Alex Dias Ribeiro (parte 6)

Algumas semanas atrás o mundo se deparou com um atentado terrorista que parou a França.
Os radicais muçulmanos invadiram e mataram vários cartunistas em forma de vingar Alá (segundo eles).
Após os atentados, a França se mobilizou com um tema a ser estampado em todos os cantos, “JE SUIS CHARLIE” (Eu sou Charlie, em português).
Vamos lá, sou contra qualquer tipo de terrorismo ou justificativa para o mesmo, mas também sou contra a liberdade de expressão que desrespeita a crença, religião, cultura ou qualquer coisa que seja sagrada para um determinado povo, eu não acredito em Alá mas também “não sou Charlie”.
Liberdade de expressão não é feita para provocar a fúria de uma cultura, desrespeitando o que nela tem de mais sagrado, no caso dos muçulmanos, o Alá.
Claro que, tal ato de desrespeito não justifica as ações que os falecidos terroristas tomaram, nada justifica a violência. Só espero que o mundo aprenda a lição, mesmo  que ela tenha vindo a “duras penas”.
Abaixo um texto do ex-piloto de Fórmula 1, Alex Dias Ribeiro sobre os acontecimentos:

JE SUIS CHARLIE?

NON
– Mas durante muitos anos fui redator do Jornal Atletas de Cristo onde usávamos o humor como meio de ensinar coisas sérias aos nossos atletas sem botar o dedo na cara de ninguém. Lá nasceram personagens famosos como Tonhão Crentão, Zé Buscafé, Legalino Fariza, Tia Dinorá, Victor Triunfalista, Crente Aladin e o Genio da Biblia Maravilhosa e outros. Não fuzilaram nossos exelentes cartunistas nem explodiram nossa redação. Mas ganhamos alguns inimigos que vestiram a carapuça de nossas sátiras aos assuntos do nosso dia a dia. Assim como essa:

Cada Macaco no seu Galho

O pastor chegou da igreja cansadão depois de um domingo cheio de atividades e desabou no sofá pra dar aquela relaxada. Aí, alguém ligou a TV justo no momento em que acabavam de mostrar o gol mais bonito da rodada.
O repórter perguntou ao craque do ano como ele conseguiu fazer aquele golaço.
- É, eu chutei e foi gol. Graças a Deus!
- Puxa vida, eu não sabia que esse cara era atleta de Cristo! exclamou o pastor levantando-se empolgado do sofá. - Tenho que traze-lo pregar na minha igreja de qualquer jeito!

Naquela noite o pastor sonhou com o jogador mais famoso do país no seu púlpito, a igreja lotada, a congregação indo ao delírio e ele dando autógrafos ao lado do grande astro em frente às câmeras de TV na porta do templo.
Acordou cheio de idéias na cabeça e não sossegou enquanto não arrumou um diácono que era amigo do marido da irmã da sogra do jogador. Com medo da velha lhe lançar outra maldita “praga sogra”, o artilheiro não teve como recusar o convite.
Mesmo advertido de que o craque ainda não era tão bom de Bíblia quanto de bola, o pastor não quis nem saber e mandou pôr faixas e distribuir panfletos no bairro inteiro, e anúncios na rádio pirata. Sua igreja apresentaria a maior atração dominical de todos os tempos!
No dia combinado, a igreja estava lotada. Tinha gente saindo pelo ladrão: em pé, sentada no chão e até pendurada nas janelas.
Depois que as dezesseis bandas da igreja se apresentaram o pastor se levantou e orgulhosamente introduziu o grande pregador da noite.
O atleta que até então só sentava no último banco, subiu meio desajeitado no púlpito, engoliu em seco ao encarar de frente a multidão, sentiu as pernas bambearem e o suor brotar na testa. Encurralado em seu campo de defesa o homem ficou mudo...
No minuto de silêncio que se seguiu ele lembrou que nunca tinha pipocado, nem mesmo diante da galera do Maracanã em dia de Fla Flu. Resolveu encarar a situação. Respirou fundo, deu uma ajeitada na gravata que nunca tinha vestido na vida e começou:
- Bom meus irmãos, eu vou contar para vocês a parábola do bom samaritano porque ela foi uma benção na minha vida. Amém?!
- Amém!!!! respondeu em coro a congregação. O artilheiro ganhou moral com o eco favorável da torcida e partiu da defesa para o ataque com pinta, sotaque e entonação de pregador famoso!

O sermão

Um homem descia de Jerusalém para Jericó quando caiu numa plantação de espinhos que começaram a sufocá-lo. Tentando sair da incircuncisa situação ele gastou todo o seu dinheiro até ficar pobre a ponto de comer a comida dos porcos numa fazenda.
Foi então que ele encontrou a rainha de Sabá que lhe deu um prato de lentilhas, cem talentos de ouro, vestidos brancos e um cavalo. Amém!?
Amém!!!! confirmaram os fiéis.
Ao prosseguir viagem, seus cabelos se enroscaram numa árvore e o homem ficou dependurado por muitos dias, mas os corvos lhe trouxeram comida para ele comer e água para beber, de sorte que o homem comeu cinco mil pães e dois mil peixes. Amém!?
Amém!!!!
Uma noite, quando ainda estava suspenso, Dalila sua mulher chegou e traiçoeiramente cortou-lhe os cabelos. O homem caiu em pedregais escorregadios mas lembrando-se das palavras do profeta, levantou-se e andou. Amém?!!!
Então choveu quarenta dias e quarenta noites e o homem se escondeu numa caverna onde se alimentou de gafanhotos e mel silvestre. E saindo, encontrou um servo chamado Zaqueu que lhe disse: - vem jantar em minha casa. Mas o homem se desculpando disse-lhe: - Não posso pois comprei uma manada de porcos perdida como ovelhas sem pastor. Foi então que um leão faminto tragou todos os porcos, mas Golias derrotou o leão com sua funda e mostrou ao homem o estreito caminho que levava a Jericó.
Ao se aproximar das muralhas da cidade ele viu a Jezabel na janela. Mas ao invés de ajudá-lo ela riu-se dele. Indignado o homem bradou em alta voz: lançai-a fora! E eles a lançaram fora setenta vezes sete. Dos seus fragmentos foram recolhidos doze cestos e disseram: - Bem aventurados os pacificadores.
Portanto, meus irmãos, na ressurreição dos mortos de quem será essa mulher?

A repercussão

Encantada, a congregação aplaudiu de pé.
Na saída, entre um autógrafo e outro, o pastor ouviu uma confissão: Eu não entendi nadinha do que ele falou, mas foi uma bênção! Ele é tão profundo, o senhor não acha? Ai! Você falou ao meu coração! Suspiravam apaixonadas as garotas da igreja.
Feliz da vida como quem marca um gol de placa o “craque da palavra” foi para casa se achando o novo Silas Malafáia.


Alex Dias Ribeiro

Rômulo Rodriguez Albarez - São Paulo/SP - #EuNãoSouCharlie

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