quarta-feira, 2 de setembro de 2015

F1 2015 - E com a palavra, Gary Hartstein (3)

Ele foi o aprendiz e sucessor do lendário Sid Watkins na Fórmula 1, se tornou médico-chefe na categoria e hoje em dia de fora costuma dar muitas entrevistas, em sua quase totalidade num tom crítico à FIA e aos seus membros da equipe médica atual.
O Dr. Gary Hartstein geralmente não tem papas na língua, em entrevista ao site espanhol 'laf1.es' o norte-americano critica os procedimentos tomados no acidente de Jules Bianchi, critica também as conclusões sobre o fatídico dia em que a FIA culpou o próprio piloto, fala sobre outros assunto e compara os dirigentes com gângster e criminosos, e também acusou a FIA de interferir em sua vida profissional, após sua saída, no final de 2012, confira:

Ele começou falando sobre qual seria a reação de Sid Watkins ao ver o que aconteceu em Suzuka:

"Estaria muito nervoso, dando golpes nas paredes e se queixando de como foi infeliz nisso tudo. Estou feliz que ele não tenha visto. Se tivesse, estaria completamente irritado. Completamente."
Sid e Gary em Imola
Procedimentos da equipe médica após a batida

"Para ser honesto, não tenho muitos problemas com os procedimentos que se aplicaram depois de Adrian Sutil sair da pista. Não tenho problemas com a atuação dos comissários e da direção de prova. A bandeira amarela dobrada significa que os pilotos precisam estar preparados para diminuir, e há momentos que não há solução senão colocar a grua na pista. As pessoas têm criticado e perguntado por quê há culpa de Jules. O fato é que Jules era quem acelerava e estava rápido demais."

Protocolos que se ativam em um caso como este

"Creio que desde esse ponto de vista, tudo funcionou bem. Teve um pouco de confusão, mas saíram com o carro de segurança e o médico, e logo o médico tomou a frente para se dirigir à zona do acidente. Não tenho dúvidas que o trato aplicado no local foi bom. Conheço o doutor do carro médico, é excelente, estou certo de que o trato  foi exatamente como dita o protocolo."

Sobre a forma como Bianchi foi retirado do circuito de Suzuka de ambulância e não de helicóptero

"Sim, as decisões sobre sua saída para o hospital foram problemáticas. Muito. Revisadas as normas da FIA, pode ver quando as condições meteorológicas impedem que o helicóptero possa levantar voo, a única forma de que a corrida continue é que o hospital mais próximo esteja a X minutos, creio que 20 ou 30 (são 20). Pode-se calcular de duas formas: ou cronometrando o tempo do trajeto da ambulância ou calculando matematicamente.
De acordo com essa norma, assim que os pilotos do helicóptero reportarem que não podem voar, o delegado médico deveria recomendar que a direção da prova parasse a prova, ao menos acionasse a bandeira vermelha de forma provisória até que as condições meteorológicas melhorassem. A evacuação dele demorou 40 minutos. Isso é muito. Jules sofreu uma lesão grave, estava muito ferido e uma retirada de 40 minutos é demais para uma lesão cerebral grave."
Jules Bianchi sendo levado de ambulância nas ruas de Suzuka

Afirmação da FIA de que o tempo de transporte não afetou Jules:

"Essa afirmação é chocante. Absolutamente chocante. Escrevi em meu blog no momento: ninguém que entende de lesões cerebrais jamais disse algo semelhante. 40 minutos é demais para uma lesão cerebral. Qualquer neurocirurgião riria se lhe perguntassem se são diferentes as consequências de uma retirada de 40 minutos e outra de 20", exclamou.

Jules Bianchi sendo retirado do circuito
O que faria diferente se fosse o médico-chefe

"Quando eu era delegado médico, uma vez tivemos de parar uma corrida por algumas horas. Bernie Ecclestone me pressionava para que voltássemos, mas quando aceita uma responsabilidade assim, tem que seguir o regulamento. As normas servem de algo e estão muito bem feitas. Teria falado com Charlie Whiting e dito que precisávamos parar a corrida por não poder cumprir com o limite de tempo", falou.

Sistema de bandeiras coloridas está obsoleto

"Creio que é muito importante fazer que se cumpra. O sistema de bandeiras é extraordinário. Isso não significa que não pode melhorar, mas se se faz cumprir bem, é extraordinário. Este ano, vemos problemas na F3, onde pilotos podem enlouquecer. Recordo uma vez na GP3, deve ter uns dois anos, em que falei com pilotos e disse que não ia permitir carros médicos indo à pista em bandeira amarela por causa de como eles estava guiando nessas condições. Não queria um médico machucado. Os pilotos são pilotos e fazem coisas de pilotos, e também quero saber quanto precisam aliviar em bandeira amarela para não serem penalizados."

Lisura do grupo montado pela FIA que faz a investigação do acidente

"É uma boa pergunta. A credibilidade é menos sólida se os membros da investigação tiverem um conflito de interesse. E aqui, metade dos membros pelo menos devem suas carreiras no automobilismo ao Todt. Isso não significa automaticamente que não esteja certo o que eles dizem, mas não deixa de ser algo que cause dúvidas sobre as conclusões. O segundo e mais importante, talvez tão importante como, é que nunca publicaram o informe completo. Apenas publicaram um resumo de algumas páginas, mas não dizia nada interessante."
Jean Todt
Mudanças que podem ser esperadas depois do Caso Bianchi

"É interessante. Creio que Charlie está tentando extrair os carros dos circuitos sem precisar da grua. Acredito que está pensando nisso, mas não sei qual a solução. Queria poder fazer como nos velhos tempos, quando não precisava retirar todos os carros e os deixavam separados numa parte que não impunha perigo para todos. Não há dúvidas que para Jules teria sido menos perigoso o carro de Sutil que a grua. De novo, não tenho queixa quanto ao procedimento que se ativou depois do acidente. Agora mesmo acredito que o grande perigo é quando os carros deixam o solo, como Mark Webber em Valência 2012. É um dos episódios mais perigosos."

Possibilidade dos cockpits fechados

"Isso não vai ocorrer. O risco não é zero. Se um carro capotar e cair com o cockpit para baixo, não estou muito seguro de como o piloto poderia ser resgatado. Fora isso, já não seriam monopostos abertos, e a F1 sempre foi uma categoria de carros abertos. Sei que Adrian Newey fez a Red Bull futurista com a cúpula para um videogame e seria bonito e com uma mecânica espetacular, mas não estou certo de que no futuro ocorra algo pelo estilo."
Simulação
A demissão do hospital onde trabalhava por conta dos artigos sobre o acidente de Michael Schumacher após uma visita Gerard Saillant

"Um dos responsáveis veio ao hospital um dia e me disse que recebeu uma visita de um amigo meu. Perguntei se era verdade. Disse que ele se chamava Saillant e tinha chegado com um dossiê e perguntado  o que podíamos fazer para que eu parasse de escrever.  Meu responsável disse a Saillant que não era a solução pelos problemas com o que eu escrevia. No entanto, no dossiê que carrego - algum dia publicarei online, apesar de ser grande demais -, é uma compilação de meus artigos. Enfim, não me surpreendeu, mas chocou que alguém com tanta responsabilidade tenha feito algo assim. Só criminosos fazem coisas como essas. Atuam como gângsteres. Essa é a palavra. Gângsteres."

O motivo da FIA querer atrapalhar sua carreira profissional quando não está vinculado à federação

"Acredito que pensavam que eu podia causar algum dano, que isso podia ter consequências. Que tiveram medo e me odeiam até a morte. Levaram tudo a um nível pessoal. Todt é uma pessoa vingativa. Se o causa problemas, ele vai te foder. Talvez não amanhã, talvez dentro de uns anos, mas te foderá. Quiseram me machucar a um nível pessoal. Acho que têm medo de mim."

Processo em tese restrito de seleção da FIA para médicos

"A verdade é que foram duas mudanças. Quando Sid se aposentou e quando me substituíram. Quando Sid ia se aposentar, escrevi uma carta grande a Max Mosley. 'Querido presidente, Sid vai se aposentar e gostaria que me considerasse para o cargo, etc.' Sabia que outros pediram, mas me escolheram. Max era sério e entendia a importância do trabalho da medicina na F1. Ele estava lá quando Ayrton e Roland tiveram seus acidentes. Max trabalhou com Sid, sabia o que acontecera. A segunda foi minha, então até agora não houve um processo de seleção absoluto. Saillant, (Jean-Charles) Piette e Todt são todos amigos. Que melhor presente dar a um amigo do que um dos melhores trabalhos do mundo? Não tenho problema com isso, mas sempre disse que é estranho. É provável que no mundo existam 30 ou 40 pessoas que poderíam fazer ese trabalho, Piette não era o único. O que me enervou foi que escolheram alguém que não estava preparado para um trabalho tão sério."

Rômulo Rodriguez Albarez - São Paulo/SP - ...

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