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Galvão Bueno |
Existe aquele tipo de pessoa que você não conhece
pessoalmente, mas querendo ou não marca em algum momento da sua vida. Ou em
vários, como é o caso de Galvão Bueno, narrador da Rede Globo.
Não vou mentir, já o mandei calar a boca várias vezes, me irritam algumas
coisas em suas transmissões, como a mais de dez anos trocar o nome do Kimi
Raikkonen para Mika Hakkinen, ou errar o piloto de determinado carro, ou frisar
o mesma coisa durante toda a corrida ou eximir o brasileiro de alguma culpa ou
má performance da corrida afim de segurar a audiência, enfim, é seu trabalho, é
a política da empresa, imagino eu.
Mas também a experiência e a bagagem que ele trás é algo inegável, é algo raro
e muito difícil de se conquistar. Afinal são se não me engano são mais de quarenta
anos de Fórmula 1, sempre ao lado de Reginaldo Leme.
E claro, falando apenas de Fórmula 1, porque se formos falar de todos os
esportes que ele cobriu, temos momentos mágicos em nossa memória, como o famoso “acabou,
é tetra, é tetra”, ou o meu preferido, “sai, sai que é sua Taffarel”, ou "Ayrton, Ayrton Senna do Brasil", e são tantos outros.
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Ayrton Senna de carona com o amigo Galvão Bueno |
A voz do narrador marca momentos que permanecem em nossa memória pro resto de
nossas vidas, eu não poderia não citar o famoso “hoje sim, hoje sim, hoje não”
do Cleber Machado, ou a vitória nas 500 milhas de Indianápolis de Tony Kanaan
na voz do eterno Luciano Do Valle.
Momentos eternos nem sempre são felizes, dia 1º de maio de 1994 nos prova isso,
uma simples frase, essa do Galvão, ecoa até hoje em minha mente, “e Senna bateu
forte”, o momento do impacto em que uma família perdia um filho, uma nação seu
herói e o narrador perdia um amigo e precisava se manter forte e continuar com
seu trabalho, pra mim ali, uma das maiores amostras de profissionalismo que eu
já vi.
Essa semana o Galvão lançou um livro com suas memórias, ainda não li e nem
comprei, mas pretendo. Vi alguns trechos na internet e gostei muito, a amizade
entre ele, Ayrton Senna e Gerhard Berger, a frustração por não ter narrado o Guga,
a dor de ter perdido Senna, mas o que mais me chamou a atenção foi o que ele
disse sobre Luciano Do Valle, abaixo:
“O ano de 2014 foi um ano muito cruel. E não foi pelo 7 x 1. Foi difícil, mas
tive coisas piores. Perdi pessoas importantíssimas na minha vida, como o
Luciano do Valle. O Luciano sempre foi uma referência, sempre disse isso a ele.
Competimos duramente durante 40 anos. E isso nunca significou inimizade,
rivalidade, pelo contrário. Fomos grandes amigos. Lembro até hoje de nossa
conversa de despedida, que aconteceu no Maracanã, e falávamos sobre os próximos
passos, o Mundial aqui no nosso país. Dediquei a abertura da Copa a ele. Foi
muito duro fazer a abertura de uma Copa do Mundo no Brasil sem o Luciano na
cabine ao lado. Foi o momento mais duro, mais difícil. Copa do Mundo é o máximo
de nossas carreiras. No Brasil, então, era um sonho. E ele não estava lá."
Relembrou um emocionado Galvão Bueno, com a voz embargada e os olhos cheios de
lágrimas.
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Galvão Bueno e Luciano Do Valle |
Como ele diz, uma coisa é chegar e a outra é passar, e 2014 foi assim, chegou
mas foi duro passar.
Honra a quem merece, e o Galvão, falem bem ou falem mal merece a sua parte.
Talvez ele junto depois do meu pai possa ser o grande responsável por eu gostar
tanto desse esporte, gostar tanto de Fórmula 1.
Rômulo Rodriguez Albarez – São Paulo/SP - ...